(...) da ashfixia à serotonina

quinta-feira, abril 26, 2007

358º




















Do 25 ao Zeca aqui fica a minha selecção:

Os Índios Da Meia-Praia

Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré
Houve até quem estendesse
A mao a mae caridade
Para comprar um bilhete
De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar
Nao traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente está unida
Tudo se faz de vontade
Tudo se faz de vontade
Mas nao chega a nossa voz
Só do mar tem o proveito
Quem se aproveita de nós
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Chupam-te o couro cab'ludo
Quem dera que a gente tenha
De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
Foram "ficando ficando"
Quando um dia um cidadao
Nao sei nem como nem quando
Veio à baila a habitaçao
Mas quem tem calos no rabo
- E isto nao é segredo -
É sempre desconfiado
Poe-se atrás do arvoredo
Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
Até que veio o primeiro

Documento autenticado
Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado
Quem aqui vier morar
Nao traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo
E toda a gente interessada
Colabarou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada
Nao basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só "unidos venceremos"
Reza um ditado do Povo
E se a má lingua nao cessa
Eu daqui vivo nao saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos índios da Meia-Praia
Quem vê na praia o turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfrao capitalista
Foi sempre a tua figura
Tubarao de mil aparas
Deixar tudo à dependura
Quando na presa reparas
Das eleiçoes acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
Mas nao por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hao-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada
Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo

* Texto e musica para o filme: Indios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles.

segunda-feira, abril 02, 2007

357º

De: Howard Schatz

356º

Cadafalso Rosa - Pastel

parindo poemas às postas, pela ribanceira
pelas encostas, na vertigem gritada
inacabada, solteira cabeça cheia de ar
minha menina tão doirada, inspiras
expiras, respiras
poesia do corpo, poros, olhos, adoração
numa casa de bonecas, um coração
minha menina tão minúscula, absurda
de mimos, tão cheia, tão feia
por chorar, por tentar, por escrever
poemas de adeus, infinidades
com saudades de ver, parir,
sorrir poesia nos lábios frios,
abraços vazios, cantigas, pela ribanceira