(...) da ashfixia à serotonina

segunda-feira, setembro 12, 2005

19º
















Hoje venho falar-vos do apelo dos sentidos pela minha óptica e pelo meu próprio sentir.

Tudo se passa muito depressa. O tempo é quase imperceptível.

Ei-lo! (A fera macho)
Sinto-lhe o calor das veias e a humidade da pele. Sinto o seu pulsar e o arregalar de dentes.
Sinto-o escondido.
Mostra-se perante mim junto de todos os outros.
No entanto, só eu consigo ver-lhe os ossos, as veias, o pulsar do sexo.
A sua carne pede-lhe mais do que ele pode/deve ter.
Pede-lhe roubo, estupro. Pede-lhe o uso da força, o poder da dominação.
Enquanto tudo se passa assim eu sinto e tremo.
Começo pelo turpor, pela agonia. Segue-se o querer.
O temor faz-me humedecer.
A minha humidade agoniza-me!
Sinto também sede e fome...
Sede de humidade alheia, fome do sexo que me é oferecido em segredo.
Não existe nada que seja nosso. Não existe sequer a cumplicidade das relações casuais!
Existe antes a fome, a sede, o apelo dos sentidos e o rosnar dos sexos.
Palavras que trocamos sem significado. Palavras ocas para justificar o magnetismo que nos prende e apavora.
A vontade dos corpos comanda-nos.
O instinto animal atiça as feras que somos.
Lançamo-nos então na cálida descoberta de nós mesmos.
Tu, Tigre.
Eu sou a fera que não podes conhecer de uma só vez.
Fica-te a marca das garras, das mandíbulas assanhadas.
Marco-te com os sentidos.
O teu corpo torna-se escravo dos instintos.
Pensarias talvez que a dominação é algo que podes controlar.
Pois bem!... Aí pecaste.
Serás consumido pelo fogo que ateaste.
Serás uma das minhas labaredas.
Desta vez serão os teus fantasmas a possuir-te. A trazer-te recordações de mim.
Sentirás nas tuas insónias o calor da minha pele, o cheiro envolvente, o pulsar das minhas veias e do meu ventre.
Sentir-me-ás sem poder evitá-lo.
É o preço que escolhes pagar pela secreta comunhão.