(...) da ashfixia à serotonina
domingo, agosto 22, 2010
377º
Embalo assobio
Pequenina, pedrinha pequenina
chamam eles, quem são eles?
pequenina, cristalina e doce
quem é o rosto que lá vem
era escuro, tão inverno, era frio e vazio
E menina, quem és tu?
que pequena, cheia de medo numa concha grande
demais
No entanto, num momento
de erguer de soltar respirar mais depressa
voar dali, voar sei lá, sei lá
És de que tom, que lugar?
sabes lá, pois não, pequenina mas
leve
subindo e acenas para um outro
e acenas por que os que te deixaram
estão sempre, sempre dentro de ti
naquela concha, há um mundo
Subaquática, algas de cabelos
sorrisos e chinelos largados por ali
Charcos subtis reflectem com vagar
natureza indolor
Bebés não são de ninguém
todos da pequenina pedrinha, escondidos
ali
lugar de charcos subtis
uma linda e subaquática ténue
...
de algas, da concha
concha berço de embalar
Quem vem lá?
Mãos dadas uma vez, colos haviam secado
gélidos, colos que já são de verdade
Naquela concha pequenina que mora
sem ninguém julgar
Ó tu, ser leve,
para quem vais soltar assobio forte?
...
À suave subaquática ténue
Pequenina!
sábado, fevereiro 20, 2010
375º
Uma lâmina caiu ao desamparo na banheira
E tanta chuva miudinha que não pára de furar o âmago, o sentido,
a bravura de existir que há em cada pequena e perdida cabeça;
Tanta, quanto de nós há em água, água revolta que já não limpa que espalha toda a corrupção e manobras russas ou chinesas nas tais perdidas cabeças;
Fio a fio de chuva, cântaros, chaleiras ferventes ou iceberg, o que for, eu sei lá... que a confusão acontece e que não há xarope ou mezinha que faça sarar;
Sarar as cabeças, os corações, até os músculos que estão frígidos, sem pinga de sangue
PORRA
É sábado e anoiteceu precocemente
depois é (apenas) um ápice
Boa noite está bem? Melhor assim
terça-feira, setembro 15, 2009
374º (r/c)
Patamar zero. Rés-do-chão e lá estás tu outra vez.
Se não passa do chão, ai que ampara quedas e se te quedas...
Sopra-se paciência na brisa e faz comichão na venta.
Aos soluços, solavancos, cambaleantes lá vão de novo passos,
passo-te a chave da porta do sótão...
E se me passasses a chave de uma nuvem-táxi para o "Céu"?
374º (- 2)
(Desata a correr com velocidade)
Cada vez mais depressa comemos os segundos que marcaram uma porta que só podia ter uma chave (o molde perdeu-se lá atrás). São vidas de ácaros a empilhar-se na paciência.
Uma virtude daquelas da montra de troféus.
Que merda esta.
374º (- 1)
Biliões de peças são mais que um puzzle.
Porquê?
Fizeste muitos e muitos demoliste, arrasaste, muitos que a vida entornou
E legos? Quantos legos, múltiplos, diferentes, estranhos, semelhantes,
como casinhas.
É como brincar às casinhas.
quinta-feira, maio 21, 2009
300 e tantos após meses a fio
E lá vai tempo - ele cheio - de restos que aqui não ficaram...
tempo de quê? Restos de fusões boas, de vida nova, de folhas lisas, brancas
brancura abarrotada de lilases, azuis marinhos, cinzas mornos e apáticos, magenta a encarnado torrencial... as milésimas cores que têm vindo pé ante pé num correr de anões místicos contar a história de um destino tão irónico quanto possível!
E após torrentes de postagens não feitas, após 20 vezes mais ou menos trinta eficazes (meses) fala-me um aperto com sabor a serotonina
Sem explicação!
tempo de quê? Restos de fusões boas, de vida nova, de folhas lisas, brancas
brancura abarrotada de lilases, azuis marinhos, cinzas mornos e apáticos, magenta a encarnado torrencial... as milésimas cores que têm vindo pé ante pé num correr de anões místicos contar a história de um destino tão irónico quanto possível!
E após torrentes de postagens não feitas, após 20 vezes mais ou menos trinta eficazes (meses) fala-me um aperto com sabor a serotonina
Sem explicação!
Eis Maio de 2009
sexta-feira, setembro 28, 2007
372º
dócil matina
Olá x!
O que me contas sobre a tua perturbação sensorial do fim-de-semana passado?
Ouviste uma vez mais (absurdo) os cascos e o galope pelas encostas do teu monte?!
Eu, não sei porquê... Tenho uma formiga no braço e a tremenda necessidade de comer, alarvar, devorar industrialmente tabletes nestlé de amêndoas.
Disseste-me um dia que era a tal coisa da serotonina.
Lembras?
Lembras dos pés da cadeira azul num pátio de madeira branquíssima e o mar.
De aconchegarmos os olhos no ondear bravo e na chuva miúda, os pés na humidade do areal à nossa beira.
Havia um horizonte inteiro por adormecer.
---
Olá y!
Não conheço esse horizonte hoje.
E onde andas tu, se perdida no nenhures da cidade suja?
E a serotonina. E os pés da cadeira trabalhada pelas mãos do velho do mar.
E o mar velho como ele ali...
Não revejo hoje o ondear e a chuva mas antes uma neblina das 9h às 11h em que não acontece nada diferente.
Antes sonhos e reflexos desfocados de nós, das algas, dos castelos, mosteiros em ruínas.
E urze, mato, muito mato para poderes sentir-te livre com céu sem fim a pairar.
Também há o comboio das 12h.
E uma gare onde não imaginas com estrados de madeira escura. Escorregadia nas manhãs primaveris.
O fim-de-semana passado?
Não contei, não recordo, não guardei.
E amanhã? E depois de depois de amanhã?
Apanho-te se seguir as tais formigas?
Ou não me levo arrastado até ao fim de mim, de nós no oceano.
Teu, sempre segredo que nem murmurado, reproduzido.
Teu das 9h às 11h.
quinta-feira, setembro 06, 2007
370º
Loraine, o que é feito de ti no divã?
...
As pequenas enormidades que fluem
espasmódicismos
noite irrequieta sentada num charco lunar
brilhos celestes e casas apertadas na cidade
não estarás fechada na caixinha da ostra
no segredo inconveniente das marés
sim, estarás por além praia de inverno
o dia corre para se fechar
Loraine (acho que assim é)
o quente e o icebergue preocuparte-ão?
o que opinas sobre a espécie imunda que somos
preocupa-te?
Uma resposta não flui por si mesma na irremediável pergunta
ecos, reticências, espaços transparecem num indicador
"Trazeis-me um copo com gelo, chá de menta e cigarros de enrolar?"
(imagem de autor desconhecido)
369º Re-Olá
Olá comparsas deste mundo blogosférico e narcísico, desta inter-realidade de que me afasto por tempos indeterminados...
Pois sim, eis-me de novo assombrada por assaltos repentinos de teclar depressa uma porra de um manancial semântico que se me esquiva para as mãos.
Não sou particularmente devota do acto criativo, ou como queiram designar, enquanto expressão de algo que brota de um intrínseco complexo psicótico "eu mesmo, o meu eu e eu".
Ainda assim, como há quem coma e aprecie (ou não), aqui ficarão mais uns desaires da minha mente hiperactiva.
Se nem eu gosto do que escrevo nem para mim escrevo... Para que escrevo?
Mas se sai deve ser porque tem que sair.
Agradeço-vos a paciência de aqui passarem.
Agradeço-vos porque tenho sempre folhas e canetas, sendo que, do ponto de vista ecológico é melhor assim (ter o blog)... De qualquer modo sai tudo à bruta e pouco lhe toco. E se sai...
Espero que apreciem (ou não), as consequências destes episódios criativos!
Cumprimentos e tal,
Raquel Antunes
(Imagem furtada algures no google)
367º
Imputações Narcísicas
Suavemente mas com exactidão
a espiral encurrala-lhe os olhos
injecta-lhe serpentes pelo ódio acima
masturba-lhe a serotonina
Lenta, crucial, intangível
escoa-lhe um gemido das entranhas
um fino fio vinagrento
com amor...
Emudecida, linda, mansa,
efémera fada
num tango noctívago
aspergida pela onda incrível da natalidade
Quem eras?
Micróscopica como a bactéria
astuta, cigana, ou natural
nascendo entre o asco e a vergonha
Ou susto...
freme sorri e chora tudo velozmente
na corrente manancial do útero fustigado pela tempestuosa fúria
na pressa súbita de se esquivar até às têmporas
uma planta fanerogâmica
Quem sente tanto assim?
A madre ou a submissa acanhada nos confins das celas ancestrais, o sagrado fim que lhe cola a carne ao espírito, que lhe consegue gritar
que pare
antes de se vir, de sorrir, de rasgar
um tempo lacrimal
o agridoce pincel a rosa-cinza
a tela narcisista do maníaco-depressivo
quarta-feira, setembro 05, 2007
365º
Sofreguigão incendiária
dói
dói
...
urra
...
Há ou não um silêncio coberto de condimentos fáceis
uma sorridência temperada de oregãos e pirâmides egípcias
ou o choro de bebé em azeite e alecrim?
sh...
Amarelam-se as pregas e os nós de pele flácida
caiem-lhe vestígios de alma pelo corpo
ai ó alma... inércia de raquitismo...
Que alma senhores?!
Vive a múmia exilada nos fogos sôfregos, pântano e imundície
peças de tempos inquietos nos manuais, nas prateleiras,
num dossier de história antiga
Não sobrevive nem o calmo incendiário
sim, aquele que um dia faleceu no charco de si
no teatro pútrido de sua miserável cinza
como um tal hermano...
363º
Nada, não há...
Minuto que vem e consome o ar pela espera
rasga-se-me no vento lá fora
mas dentro não há vivalma
não há, não há...
Um beijo de boa noite e um traço
ao espelho a linha
não há nada mais branco
ou menos quente que uma mão selada
Selar, romper, ganir, torcer ou fugir talvez
Arder, consumir segundos entrecortados
nas rugas
nas esquinas vagas
não há nada...