Parte de nós, faz cancroParte de nós sentir a chuva no cabelo em noites cinza fluorescente.
Parte de mim contar-te que não pensei mais em ti desde que dissemos adeus às utopias, aos amanheceres.
Parte-me em pequenas janelas de vidro saber que os teus ossos se derretem, a tua pele cai na opacidade do Outono, o teu sorriso desmaia sem colo.
Sei que tu e eu formamos um palácio de nuvens.
De seio em seio, nos dias passados pela casa de partida, a jogar com os dados do vício.
Quando te partes pela madrugada?
Se houver novidade num prenúncio vizinho?
Algures num quarto de hóspede tu estás partido e espalhado pelos mosaicos, como mobília.
Sobranceiro, engoles-me sem esforço.
O que faz com que parte de nós fique desalojada.
Sem albergue, à falta de preservativo, tu partes-te.
Estilhaços de pele desfeita que me ensanguenta.
Se partirmos já, ficarei negra.
Partido nos meus dedos, um antigo hino...
Foste uma ampola inábil.
Parte de nós ficará em diante sem efeito.
Paridos em prisões, somos parte de ruína alheia.
Somos as coisas inúteis que partem de todos, de nós.
Um recado em letra maiúscula: Faz cancro.