(...) da ashfixia à serotonina

quinta-feira, abril 27, 2006

273º

Re Inauguração

Duas ruas acima,
primeira campa à esquerda.
Corta por aí e pára,
deixa amainar.
Fica à espera entre a plateia...
Escuta os grunhidos da ira colectiva.
Multidões em chamas que ateiam
fogos-fátuos.
Tanta electricidade nas linhas da
palma da mão!
Dois palmos acima de ti e
serei o motor de um vendaval.

272º

De: José Marafona

271º

Nu Ventre

Um lençol de pele estendida a secar, no Sol.
Um desenho teu tatuado com luz, na Sombra.
E nós muito apertados que te selam guinchos moribundos.
Nu ventre estéril, seco pelos dias arenosos, com Vento.
Forças de matéria viva, transparescendo num lençol de pele.
E, cada vez mais, naperons bordados no mapa das tuas costas.
Não chega já de nudismos incautos?
Deixo-te uma carta no ventre para leres, nua.
Às escondidas.
Com um beijo morno, segredado.

quarta-feira, abril 26, 2006

270º

segunda-feira, abril 24, 2006

269º

O tempo passa para nós na rádio

E eu sou a tua estrela da manhã, apetite inquieto.
Peca comigo na esquina do bairro velho, nas portas da madrugada.
Traz-me de ti os dedos, a carne presa pelo amor intenso.
E eu sou a tua espada em riste, o paladar aguçado.
Sou uma nota tocada por ti.
Meu amante, senhor da minha pele, da minha estrada.
O calor cola-me ainda mais hoje.
O tempo vai passar para nós na rádio.
Uma vez mais, para ti vou dançar na lua cheia.

quarta-feira, abril 12, 2006

268º

Richard Cooper

267º

Arrebato Saciado com tons de Azul-Céu

Chegou a hora da nudez, do corpo estendido na areia.
De mantos de linho fino e branco e mar fresco.
Chegou a hora de despir agruras.
De sorrisos abertos de par em par, das esquinas banhadas pelo Sol.
Chegou a hora de dizer bom-dia a toda a hora, a toda a gente.
De respirar mais fundo e desfrutar aromas acabados de nascer.
Chegou depressa o raio de Sol mais forte,
O azul-céu pingado pela maresia.

terça-feira, abril 11, 2006

266º

Jeffery Scott

265º

O Perdão e a Estupidez

Um céu lindo, azul resplandecente.
A manhã que enfeitiça, sobranceira, as hostes de borboletas.
Nasce um caos pleno de beleza às portas do novo ego.
O leito que dá vida...
Do outro lado, esquálida, a dormente mão de ossos cravejada.
Clara e luminosa, como a febre, imunda película de escamas.
O ventre ameaçado por ela, sombra.
Dióxido de carbono que te azula, te come lentamente.
E então? Já vês?
Queria mostrar-te com imagens de palavra, o rosto do novo ego.
Espero que saibas agora a morada, que é tua, pois escolheste.
Não foi bom, mas avante.
Ontem havia rosa, verde e luz,
Onde cresce a silva, o espinho e o negro mortuário.

segunda-feira, abril 10, 2006

264º

Howard Schatz

263º

Questão de Alcance: A Lactente

Interrogo uma vez.
Uma pequena questão:
Se sim ou se não?
Responde-me por fim.
Um apressado silêncio.
O eco, o vácuo.
Um fim antecipado.
Se sim ou não, se sei,
O que interessa?
Não há mais notícias.
A seguir, vamos juntos,
Cometer suícidio.
Infringir a vida,
Com música.
Matar saudades,
Com violência.
Acender a luz,
Estoirar para sempre.
E, despedir,
Com adeus a todos,
Um olá para os próximos.
Beijo morno, com carinho,
A Primavera lactente.

262º

Bruno Bisang

261º

Traçada nas tuas linhas

Um brilho estelar, um aceno.
Uma parte de ti na caixinha que tenho junto ao peito.
Eu estarei ausente de nós. Serás tu, meu anjo tonto...
Cuidarei de cada contusão, chaga ou trauma.
Sou, se quiseres, a enfermeira atenta.
Sou, se também o desejares, o teu bloco de notas.
Dou-me por devoção, paixão extrema.
Sou tua, se quiseres, ainda hoje.
Amanhã, quando o Sol secar a nossa pele, estaremos a céu aberto,
em carne viva.
Parabéns! Conseguiste-me.

terça-feira, abril 04, 2006

260º

Erwin Olaf

259º

Parte de nós, faz cancro

Parte de nós sentir a chuva no cabelo em noites cinza fluorescente.
Parte de mim contar-te que não pensei mais em ti desde que dissemos adeus às utopias, aos amanheceres.
Parte-me em pequenas janelas de vidro saber que os teus ossos se derretem, a tua pele cai na opacidade do Outono, o teu sorriso desmaia sem colo.
Sei que tu e eu formamos um palácio de nuvens.
De seio em seio, nos dias passados pela casa de partida, a jogar com os dados do vício.
Quando te partes pela madrugada?
Se houver novidade num prenúncio vizinho?
Algures num quarto de hóspede tu estás partido e espalhado pelos mosaicos, como mobília.
Sobranceiro, engoles-me sem esforço.
O que faz com que parte de nós fique desalojada.
Sem albergue, à falta de preservativo, tu partes-te.
Estilhaços de pele desfeita que me ensanguenta.
Se partirmos já, ficarei negra.
Partido nos meus dedos, um antigo hino...
Foste uma ampola inábil.
Parte de nós ficará em diante sem efeito.
Paridos em prisões, somos parte de ruína alheia.
Somos as coisas inúteis que partem de todos, de nós.
Um recado em letra maiúscula: Faz cancro.

258º

Ira Bordo

257º

Uma cascata de ti

Meu retrato de deusa, rosto de algodão puro.
Beijo-te as fontes com ternura, desfaço-te os nós dos dedos.
Descolo os cantos dos lábios para te oferecer um sorriso.
És tenra, leve, mas desinibida.
O teu ego contagia-me de aromas róseos.
Sou o teu casulo, o teu lençol.
Estás no meio de mim, no centro das minhas histórias.
Guardo-te num pedaço de fruta fresca para o lanche.
Estende-se uma toalha de linho bordado.
Num horizonte lilás.
Uma tela tua onde damos os primeiros passos.
Sou amparada pelo teu mimo.
Agradeço-te a delicadeza supra-humana, o amparo do olhar vigilante...
Eu amo-te, musa das planícies.

256º

McCall

255º

Que dizer?

Estou sentada frente a frente com a gata.
Os olhos atiçados e o pêlo tão manso...
E lá fora os dias crescem nas árvores.
Para depois caírem.
Pintas as paredes de tons laranja, o cabelo de groselha.
És a minha moça sumarenta!
Se acreditasses!
Quero dizer-te mais coisas.
Quero deixar de contemplar-te cá debaixo.
A tua pele, querida moça...
O teu desenho, a tua forma seduz cada poro meu.
Um traço que começo e não lhe dou fim.
És a única que não sei pintar!
O que te dizer?
Adiantaria saberes que quando te olho quero mais?
Podias perceber-me...
Eu vou tocar-te em segredo esta noite.
E ninguém saberá!
És um refresco nas minhas tardes quentes.
E se te disser?
Afinal amar é tão natural como a sede que me dás.
Poderias tentar...