(...) da ashfixia à serotonina

domingo, outubro 29, 2006

376º

Emma Tapley


















375º

A Pauta Sob-A-Derme

Porque não se cala ela com o novo abraço?
Porque a dor é crescente depois de morta a saudade?
Na verdade continua a espernear cá dentro o bicho do mato
no meu coração

Se houvesse um remédio, a poção ou o milagre
(e talvez um deus algures) para nascer a calma em mim

Porque fica ela tão só? Se a distância não te mata, se o a dor não te magoa o que fazer para calar o silêncio gritante?!

Não há alma sem segredo. Nem loucura sem medo.
Não há dor sem paixão.

Anda. Vem dizer adeus. Vem fugir comigo da espiral de nós
E caminhar para onde não existas
e ser vento, e mar...

E rir por cada lágrima do absurdo.

segunda-feira, outubro 23, 2006

374º

José Marafona

373º

Ana Maria

Ana Maria eras um conto vivo
e uma lágrima de fogo
e muitas estrelas
com olhos pintados de paz
A vida guardada num sopro
e suspiros
e canções trauteadas baixinho
com mãos de fada velha
A viagem entalada no peito
e o sorriso
e os abraços
com laços distantes
Ana Maria eras um livro
e uma reza sentida
e o céu à espera
com o silêncio sempre aqui

372º

Város-képeslapok

371º

Azul Claro-Que-Foge

O ontem espreita leve
e cai
neve de azul pálido
pelo místico sorrir das conchas

Vem cá
o animal dos feriados
valsar
pelas frestas do príncipe

A areia foge
e corre
pelos pés de ar
dorme o menino transparente

370º

De: José Marafona

369º

O horizonte despede-se à Madrugada

Paira sem aposento a doce canção
mata-me as cobras no ventre
nas casas de barro de uma floresta...

O Contigo não existe
é uma poça estagnada pelos dias a fio
é a gota de água no parapeito da janela

Da saída que se apagou
da rua que não se encontra no mapa
nas tuas mãos...

O Nós inócuo
porque também não existe
no parapeito da minha janela

Canta-me as luas do desejo
embala o meu sonho nos dedos
e mata-me de ti...

Até ser dia nos horizontes de Ninguém

368º

Martin Munkácsi

quinta-feira, outubro 19, 2006

367º

O Pré-Qualquer Coisa

O Amanhã acorda os operários
pelas janelas imundas, pelo zunir da guerra
do despertar novo à velha história
com laços de ferrugem, lágrimas de sangue

O Amanhã não esquece as vitórias
pela derrota em que não participámos
de uma estrela uma puta que também é mãe
uns olhos inscritos na luta do seu umbigo colectivo

E o que esconde a menina na mão?
O eco da revolução ou a poça de vento...

domingo, outubro 15, 2006

366º

Denis Olivier

365º

Das escadas abaixo

Pela mão da cura uma gota amarga
e cai o tempo pelos intervalos da dança
ao romper do baile

Pelos dedos apressados do sentido e da fuga
rompe-se uma aresta do corpo
ao vértice que morreu

Pelo degrau a ruir
cala-se o passo com o vestido
e a ferida ri-se todas as noites
e a pena de ave toma o peso do betão
para que as árvores possam chorar
para que o baile seja guardado
numa janela apalaçada, numa nuvem
o gelo parte-se para os pés de algodão
e a vénia constrói-se no nevoeiro febril
pelas escadas abaixo à cegueira
de branco o dia nasce.

segunda-feira, outubro 02, 2006

364º

Jeffrey Becom

363º

Pelas dóceis inconsequências

Não apetece deixar estar
guardar, estimar consigo
para lá do Outono cai o efémero rosto
da lua em desmaio

Não se podem tocar os dedos
entrelaçar, sorver no pernoite
as cálidas feridas do sol fugido
e o deserto em eco

Há a evasão que descobre
o lento amor das planícies
o suave aroma do lençol de água
o passo ritmado dos amantes esquecidos
e há as horas que não passam
que para ti morrem sempre aos olhos profundos
que para mim se esquecem de correr
e esvaímo-nos em música
no que há de improviso pela estrada
ou a bruma nos cala e despede
a cadeia de doces imprevisíveis escapes

Há o rosto que se cala a tempo de saber
ou o desconhecido que ri mais alto, mais longe
que do futuro e a crueldade
que do nó fresco e principiante
para além da virgem morta ainda em esboço.

362º

361º

A novidade é do silêncio

Esta noite está-me no bolso
como tu aqui
um fogo que quer manter acordados os uivos
como a loucura de adormecer nu abraço
e não termina para já

De manhã há lugares vazios de memórias quentes
a ternura disse adeus e eu não ouvi
como tu ainda há pouco
como os tigres e as brasas para a raiva
um acordar estridente e o depois

Hoje escreves a lápis de carvão
como eu tenho de te apagar a cada linha
e o segredo dorme descansado
e o amanhã é teimoso
e tu não terminas ainda, nunca.