(...) da ashfixia à serotonina

sábado, outubro 08, 2005

57º

Ando por aqui e trago um pedaço teu comigo. Sinto o torpor da véspera de qualquer coisa...
Sacudo o pó que tenta confundir-me e fico quieta à espera. Vou esperando...
Devagar, muito devagarinho deixo que a bruma me embale.
Começou agora a lutar contra a inércia. É um sol pouco vivo que tenta espraiar-se.
O sonho apresenta-se por fim.
Dentro da caixa escura vejo o reflexo de um passado que tentei esquecer.
Avidamente puxo uma corda. Firmo os braços para resistir à entrada de um pedaço...
Sei e soube sempre que um pedaço de ti me mutilava.
Resigno-me ao torpor e à calma decepcionante.
Lutar seria infligir-me. Tocar-me seria igualmente penalizante.
O teu pedaço quis sempre paralisar-me.
Gostarias de me ter nua e muda? Acorrentada para ti?
Querias humedecer-me à força pois odeias comungar.
Gostas assim? Gostas mais de mim solta?
Pedes-me tanto que não diga nada. Dizes que atacas como só tu sabes...
Eu rio-me perdida.
Jamais me profanarias.
O que eu sou está muito depois de um lábio, de um brinquedo teu.
Tenho espuma a deslizar sobre a pele que inflama.
Tenho sangue e saliva.
Amo-te só a ti, Pai da Noite.