(...) da ashfixia à serotonina

quinta-feira, junho 08, 2006

302º

São elas, Asmas

Um amputado expectante, sozinho às três da manhã.
Outro sem-terra nas ruas ilícitas de uma socialite incessante.
São dois gumes de uma parede de ferro em ferrugem.
A velha cadela que morde pela calada…
Histórias que se enrolam pelo mito de bairro sujo.
Tantas e tantas vidas empoeiradas, quer pelas sombras e os rouges, quer pelo lixo dos contentores, das condutas.
Imundo é um mundo verde-claro, amarelo-podre.
A asfixia da manhã acorda-me às sete.
Sem fôlego.
Desperta-se para a vida lá fora, acompanhando o bater dos ponteiros do relógio.
Há dias que se perdem no fumo, na luz mentirosa da urbe.
E se te confesso, amputado ou sem-terra, que o ódio se forja nos ossos desde cedo?
Se entala na pele e nos cabelos até ao cair das noites…
Vós, produtos deste mundo-mercado, sois todos de goma e plástico.
Se és doce é porque tens aromatizante, se te conservas sem rugas…
A cantiga já conheces.
Agora ou, se preferires amanhã, podes reciclar-te.
Um gesto tão simples.
E acaba-se com estas asmas, com o cotão que nos entope de ilusões estupidamente urbano-futuristas.
Pois são elas, alergias deste eco-sítio em ferro de ferrugem.
A porta continua lá, completamente fora de horas.