(...) da ashfixia à serotonina

quarta-feira, março 15, 2006

232º

O véu ou a verdade

Há um véu intenso de vapor de água no fim do túnel.
A visão que se alastra pelas pernas nuas das escarpas, a tremenda fortaleza do precipício, os braços amenos das grutas e os gritos possantes das aves.
Até onde abarca o olho, a pupila curiosa que se dilata?
Abarca o véu intenso de nuvens, o céu azul pálido e a linha prometedora do horizonte.
Aceita no colo as gotas cheias de terra e o toque dos insectos.

- Não!!!

O grito! A voz rebenta na garganta e o som expande-se na falésia.
Porém, a solidão é certa e profunda, o cume é inalcançável.
Armadura imensa de vapor e pedra...

- Porquê?

Não há aqui lugar para questões do humano, para a razão e tudo o que dela derive.
A rocha cala as esperas, os gritos e os silêncios.
Sobram as aves de rapina, os necrófagos famintos e as vozes naturais que chegam pelas ondas.
O mar canta dócil ao pôr-do-sol e grita os medos nas escarpas pela madrugada.
O sal come os pescadores que se aventuram, devora os tempos apressados das vidas simples.
Não há aqui rancor, apenas vísceras e imundície.
Mas, por detrás do véu intenso de vapor de água, há um tom róseo, um afago maternal.
Para lá das rochas, pelo mar de espuma, há carícias e amores.
As escamas que tornam pétalas, o rosa profundo, imaculado.

Há um véu intenso de vapor de água, um manto virgem...
A plenitude onírica, na verdade.

2 Comments:

Blogger Raquel Antunes said...

Diva!
Que saudades tinha dos teus comentários :)
Considero a Natureza como força suprema. Nunca é demais prestar-lhe reverência.

Um beijinho para ti tb.

3:53 da tarde  
Blogger isabel said...

Nós somos a natureza, só nos esquecemos muitas vezes da força dela.

Bom fim de semana
Beijinhos

3:37 da tarde  

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