(...) da ashfixia à serotonina

terça-feira, março 07, 2006

223º

Há horas e horas sem pensar.
Tentativas frustradas para não te ouvir.
Ergues os teus olhos para mim, mesmo longe, mesmo infinitamente distante.
Eu penso em desviar-me de ti, em esquivar-me sem que te apercebas...
Mas deixas?
Provavelmente vens agarrar-me e assim, impedir-me de voar.
Pedia-te eu, vezes sem conta, que me empurrasses para dentro de mim, para o meu umbigo.
Pedi-te até que esquecesses tudo, fizesses o desprezo calar a história mal contada que sou.
Fui um pedaço de papel escondido no teu bolso, fui uma carta rasgada em segredo, fui um sonho inquieto e mal dormido.
Fui coisas tuas que quiseste guardar em vão.
Passo então a citar-me: "Acorda-me! Corta-me as asas ou atira-me de volta ao abismo querido... A morte que amei...".
E tu: "Não te deixo! Não te corto e não te queimo... Amo a vida contigo, estejas ausente ou não. Ainda que sofras, quero ter-te.".
Rastejo pela encosta do teu ego, corto-me nas escarpas imundas da tua vontade. Para quê?
Para quê estragar a carne que nunca terá sabor?
Para quê desfrutar o corpo que se vai tornando defunto?
Não tapes de mansinho, não cantes docemente.
Prova antes o gosto agridoce da vida às portas da morte.

3 Comments:

Blogger Clarissa said...

Como eu gosto deste post...como estas palavras se colam à alma...tão vivas...«Ainda que sofras quero ter-te»...«Não cantes docemente»...
Obrigada por emprestares as tuas palavras a estas emoções...terríveis...fortes...sufocantes...sem fuga...

4:51 da tarde  
Blogger isabel said...

Como escreves bem, só te pode vir bem de dentro, bem do fundo de ti.

Beijo

9:00 da tarde  
Blogger António Gomes said...

Porque o amor só se sente uma vez todas as outras são plágios desse sentir e dor.

7:59 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home