(...) da ashfixia à serotonina

sexta-feira, março 17, 2006

234º

Vidua

Ostenta a carne pútrida dos dedos presos por aneis.
Mulher fria, mulher pedra...
O teu calor está pintado nos mosaicos lisos, brancos do hall.
Tez lívida, a punição sustida nos cantos dos lábios.
E o teu sorriso é de baton rouge, de carne e gelo triturado.

- O que vai ser?
- Um gim tónico, por favor...

Adia-se o momento da partida insana.
O riso histérico das gralhas, a morte viva nos comadrios...
E ela, seca víbora, possessa mas contida.
Ele, caveira lânguida, ainda jovem...
Mas, até quando?
A meteorologia anunciou precipitação ligeira, vento forte e céu nublado.
Um lábio comprime-se contra o outro...
Oh! Víbora amiga!

- O que me queres?
- De ti quero o néctar...
- Terás que te esforçar um pouco mais, querida cobra.
- Deixa-me senti-lo! Anda. Tira-o para mim.
- Para ti não há paladar. Esqueceste?
- Eu cumpri! Não tem o direito! Eu paguei...
- Ajoelha.
- Mas...

Solenitude.
A incorpórea presença dos acordes.
O mestre que limpa a sala pela primeira vez.
Chegaram risos novos ao alpendre. Aprendizes cobertas pela sua insensata novidade...
Há que cingir as mangas à pele de platina e passo a passo, descer a escadaria palaciana do pódio.
Enriquecer-se, lavando as mãos na supremacia do beijo.
Respirar fundo e...
Dar as boas vindas.

- Olá pérola...