(...) da ashfixia à serotonina

quinta-feira, março 30, 2006

251º

Deus-Pai e mãe fálica no Mundo Abortado

Ocasionalmente, mães vestidas pelas gravidezes consecutivas plantam bolbos, cuidam da jardinagem.
Pais tensos, inibidos, inseguros, cuidam dos óleos, carburantes, toxidades.
Filhos e filhas e primos e tios brincam com muitos risos sonoros, gestos bruscos, estridentes.
Famílias humanas acumuladas em montanhas de lixo vivo.
Abortos que choram a céu aberto...
Muitas crianças institucionalizadas à espera, anos e anos a fio, de famílias de sangue adoptivo.
Mães que embalam úteros partidos, placentas manchadas pelo ódio poluidor dos machos.
Há e houve sempre um mundo de pénis a sujar ruas e pessoas.
Há e houve na era piscícola toda a alma fálica, toda a história humana traçada pelo homem.
Um desenho antropomórfico do mundo que se pontua pela seiva seminal.
Deus não é também homem?
Ou o sexo é animal, ou o animal tem sopro divino?
Ocasionalmente, prenhes deslocam-se pelas correntes dos mares, dos ventos.
Semeia-se o embrião na terra enquanto se colhem vidas à fauna e à flora.
Quem disse um dia que o Homem é fauna?
Nunca.
O Homem nunca é fauna. O Homem é o mundo.
O mundo, meus amigos, é o preço do sangue do Homem que se espalha, é o preço do âmnio derretido nas vésperas de um apocalipse teatralizado.
O mundo está preso no sexo de Deus que se diz Pai.
A mãe está a um canto da sala, suja e desnutrida, com os braços repletos de cicatrizes.
Tal qual a árvore decepada, a mãe chora lágrimas de seiva pura, gotas grossas de amor perdido.
O mundo, meus amigos, está abortado pela raiz.