(...) da ashfixia à serotonina

terça-feira, junho 13, 2006

304º

Qual orgulho?

Com que nomes matamos pelo ódio?
Com que valores?
A honra, o orgulho, a disciplina?
Que honra existe para aqueles que são comidos e que agem cobertos pelo ódio?
Que orgulho existe numa hegemonia mentirosa, que apela aos fracos, aos que têm medos infundados, aos que falam pelo sangue?
Que disciplina existe na guerra?
Nada justifica tudo isto. Nada.
O ódio nunca trouxe mudança para melhor.
A ninguém.
Odiar trará dor e morte.
O sangue todo ele é sangue.
O sangue é A, B, AB e O. Positivo e negativo.
Não é preto, branco ou amarelo.
A carne é carne e os ossos são ossos. Humanos.
Pois eu, mais do que a minha pele, amo o mundo e o que dele faz parte.
Amo as plantas, os animais e os Homens.
Amo a vida como dom sagrado.
Não sou branca, preta ou amarela.
Sou humana e feliz.
E no meu sangue correm origens diferentes.
Uma mistura que me enriquece pela história, pelo património cultural.
Tenho África, Grécia, Portugal e uns temperos árabes.
Tenho raízes espalhadas pelo globo.
E tenho amor.
Não orgulho por isso, mas amor.
O orgulho é pelos feitos, pelas conquistas.
Podemos amar-nos, amar o nosso parente, a nossa terra.
E orgulharmo-nos pelo que temos, pelo que somos.
Para isso, não é preciso ódio.
O ódio, irmão-gémeo do amor, cega com dor, espalha cancros entre os povos, comanda fraquezas em nome de poderes que são traidores.
A supremacia para as minorias.
Porquê acreditar nela?
Porque convém. E sempre foi assim...
Lentamente, resta o fio da esperança.
Pelo amor.
Pela alegria livre dos que nascem e que são puros.
Com o tempo, a humanidade conspurca-nos. Dá-nos a comer os ódios e faz-nos espalha-los aos que vêm.
Podemos quebrar o ciclo do mal.
Destruir com amor as barreiras que nos tornam (des)humanos.
E dançar, olhos nos olhos, ao som do sangue que é humano e animal.
Partilhar, celebrar o que nos une.
Dizer adeus à dor, às armas que nos quebram e separam.
Diz-me agora: Para quê odiar?

8 Comments:

Blogger Flávio Gonçalves said...

Porque por vezes sabe bem?

Já viste que agora tenho cinemateca no meu blog?

5:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

também deve ser inerente ao humano...

um brinde aos teus temperos africanos, gregos, portugueses e árabes

11:27 da manhã  
Blogger Raquel Antunes said...

padraic pearse,

"por vezes sabe bem?"...
E porque se calhar é mais fácil.
Mas as grandes conquistas não se fizeram de facilitismos.
E o ódio dos Homens apenas teve péssimas repercussões.

6:00 da tarde  
Blogger Raquel Antunes said...

Obrigada luís :)

E que é inerente não tenho dúvidas.
Mas cabe-nos a nós enquanto seres prendados de racionalidade (ironia) fazer a diferença e saber utilizar com perícia o auto-domínio. Isto se formos pessoas sãs do ponto de vista psiquíco...

6:05 da tarde  
Blogger Flávio Gonçalves said...

Durante muito tempo utilizei o argumento de que é mais fácil odiar do que amar.

Porquê?

É simples:

Quando amas alguém não sabes porque o fazes, quando odeias alguém sabes sempre porquê, há mil e uma razões para odiar, o amor só acontece (e raramente) e já quase ninguém acredita nele (eu sei que não acredito).

1:31 da manhã  
Blogger Raquel Antunes said...

padraic pearse,

Admiro-me que assim penses (que o amor só acontece, e raramente)!
Nós como mamíferos emotivos que somos temos capacidade de gostar, desgostar (amar e odiar), de sentir prazer ou frustração, enfim... Vivemos logo sentimos.
Se odeias então é porque também amas. É lógico. Odeia-se o que se opõe ao nosso objecto de amor. Portanto se odeias algo é porque esse algo se opõe/contraria/difere do que amas.
Atenção que não estou a falar do sentimento de amor-sexual que existe entre casais! Refiro-me ao amor enquanto capacidade de gostar, de se sentir afeição por alguma coisa (ser vivo, objecto, etc).
Claro que existem casos de pessoas em que o sentido do ódio destronou o sentido do amor! Mas esses casos são raros e patológicos.
Acontece em pessoas que têm graves distúrbios da personalidade. Por exemplo: num psicopata. Não é habitual e não se verifica em pessoas psiquicamente sãs.
Fiz-me agora entender? :)

2:07 da tarde  
Blogger Flávio Gonçalves said...

Creio, então, que serei psicopata =) (ou esquizofrénico, para ser mais "light").

Se bem que creio que sou mesmo é naturalmente pessimista e racionalmente realista.

Posso ratificar para "o amor romântico, não existe!".

É uma invenção para vender filmes e romaces, com umas novelas pelo meio.

5:44 da tarde  
Blogger Raquel Antunes said...

Espero que não sejas nem uma coisa nem outra!

Quanto ao pessimismo penso que bem canalizado, muitas vezes até te poderá ser útil. Esse racionalismo realista também pode ser positivo, dependendo da forma como o utilizes e tendo em conta que em certas alturas o melhor é mesmo libertarmo-nos de ideias rígidas para viver a vida em pleno.
Como não acredito muito em reencarnações acho que o melhor é aproveitarmos a vida, lutar por objectivos virtuosos, sermos altruístas, e acima de tudo, procurarmos realizações para ao chegarmos ao fim da vida podermos pensar "Agora sim! Estou completo e posso gozar a paz merecida.".
Claro que isto é uma tela... Um quadro idílico.
Aqui há uns anos (não há muitos), quando estava na plenitude da minha fase do armário, pensava que não queria envelhecer. Pois hoje penso exactamente o contrário. Quero envelhecer saudável e feliz, concretizar-me e por fim, sentar-me a ver o pôr-do-sol (se possível na Namíbia) a suspirar profundamente de alívio! :)

11:43 da tarde  

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