(...) da ashfixia à serotonina

segunda-feira, março 26, 2007

354º

Poemas de rajada (caderno de bolso/2007)


Desenho a cor do vazio

Não te conheci, o que és tu
serás um álibi
ou uma queda feia

Nunca te falei, o que dizes tu
será segredo
ou um esgar conveniente

Não te ouvi, o que eras tu
será que foi mistério
ou talvez arte do abstracto

Nunca te toquei, o que fazes tu
será que foi um adeus
ou se calhar a margem da folha
e a tinta escassa;
Não há cartas com a cor do vazio
os desenhos de um mundo tão teu
ou a amnésia
se o amor escapou há poesia;
O que eras tu
talvez o cadáver tatuado a transparente
de novo longe
se não nos dói perto

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somnu


Num chão gasto pelo andar das vidas
passeiam os cães almas danadas
pelos olhos da sombra espiam sem coragem
Se num dia igual há sinais de areia
se um deserto em crostas de ódio
fas-ze a cama de hematomas
Pois é isso que tu és amigo
a nódoa do ridículo

Não, vai deixar correr as horas
contar os dias como gotas
a escorrer para além de nós

Não, vai deixar fugir o medo
rasgar memórias como a pele
a escapar para lá de nós

Mas é isso que tu és, amigo
uma crosta para tapar o desnecessário
uma espera de não saber o quê
Enquanto
o hematoma sossega, devagar