(...) da ashfixia à serotonina

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

183º

A porta abre-se lenta e secreta.
Deixa antever a rua de pedras sujas, o céu azul puro.
Deixa partilhar o rasto da multidão flutuante, de danças contemporâneas.
Apesar do ar fresco cheio de novidades, há coisas menos novas, coisas menos interessantes que se contam.

Havia naquela casa uma mistura de antes e agora que se manifestava em cada divisão.
Um antes muito antigo que vinha de dentro dos mármores e das tijoleiras.
Um agora muito novo que vinha de fora das janelas e das portas.
Havia depois o riso seco das velhas pouco surdas e muito sarcásticas, o riso feliz e livre das crianças da criadagem, os gestos barulhentos ou quase silenciosos dos vultos vários errantes.
Em suma, relembro uma casa inquieta que não conheci, um espaço nenhum.

São camadas de informação estéril e oca até mais não.
Há tempo que se está a perder devagar, muito devagar, para nada.
Deixa ficar tudo escuro, deixa calar as vozes, os ecos e as memórias.
Deixa pintar de negro o corpo e a mente para entrar em coma.
Devagar, muito devagar e profundamente...