236º
Seca, pura, ingénua hora atrasada.
Um dia, um momento por dia roubado ao instinto.
Um passo, uma corrida pela pele que se tem, uma nódoa lícita no tapete da cútis.
Mais passos, um a um, rostos sem vontade executando migrações.
Viagens na opacidade do calendário...
Há som, quase que efémera música dos dias nas estações, nas esperas.
Há a mística arte das degenerescências precoces, da ruga pintada no betão.
O tempo urge nos carris.
A teia de ferro que abate um, que abate mil.
O quilómetro é vasto mas o metro também o será?
Para os pequenos e acanhados, o tempo dispara.
Para os grandes influentes, o tempo renova, recria.
E para os médios? Haverá espaço no tempo?
Haverá talvez a medida escusada do razoável.
A seca, pura e ingénua atrocidade do tempo preciso...
Ter-se-á então o olho clínico, a cronometragem no seu termo.
Um ponto que chega para pôr fim.
O relógio que te cumprimenta e que, quem sabe, vive por ti.
O relógio que em surdina assassina o sangue.
O seco, puro, ingénuo minuto...
13 Comments:
«E para os médios...haverá espaço no tempo?»
Terrível questão!!!
Terrível pensamento de tão verdadeiro...
Tão lindo como te apropriaste desta imagem.
Ainda bem que «entraste» no desafio :)
e a escrita a da ashfixia reconhecivel entre mil...
o seco minuto que nos mata com minucia devagar a traicao...
gostei.
ups...
hehe esqueci-me
lindo
remediado
Confesso que não te conhecia, e nos últimos dias li algumas coisas tuas, para te ficar a conhecer melhor. A conclusão a que chego é que as apostas da Clarissa são sempre boas.
Gostei muito do teu conto, mas voltarei para uma leitura com mais vagar.
gostei muito. principalmente porque o que escreveste e a imagem dialogam inteiramente.
Tem sido interessante descobrir a tua escrita Ashfixia.
beijo
Muito bom, também gostei muito.
Um obrigada a todos vós!
Gostei do desafio lançado e confesso que acabei o texto exactamente no minuto 59 :)
Tenho tentado ler os vossos textos apesar do tempo que para mim é tão escasso (até para escrever).
Por isso, no meio da minha escrita relâmpago, vou tentar ler com mais atenção os vossos textos que tenho gostado de conhecer.
Um obrigada especialmente grande à Clarissa :D
Beijinhos
Cara Ashfixia
Chamar-lhe-ia um conto poético, muito conteúdo em poucas palavras.
Gostei de a ler.
Boa noite para si :)
E voltei e li com mais vagar e mais devagar.
Vê-se que escreves com imagens e que procuras colocá-las em todas as frases. Não tens uma escrita fácil como já tinha percebido durante algumas leituras que fiz esta semana.
Os teus textos tornam-se melhores com uma adequada segunda leitura, já que, nem todas as imagens que transmites são desde logo evidentes e por esse motivo a descoberta faz-se gradualmente.
Descobrimos que as imagens vêem agarradas a mensagens, com força, e em luta por se imporem.
Um grande abraço e parabéns.
Absolutamente arrebatador. Ashfixia, estás ao rubro. Que o que te inspira te dê asas durante longos e longos tempos. Bela escolha da foto, Chema Madoz é sublime. Mas prefiro o texto.
Feliz com esse beijinho :)
Uma semana boa para ti.
Beijocas grandes
Piresf,
É verdade que escrevo com imagens.
Imagens imaginárias!
Ainda assim, procuro antes escrever "às escuras", isto é, não necessariamente com imagens, mas sim com os cinco sentidos.
Tento deixá-los emirgir na ponta dos dedos.
Confesso também que pouco revejo os meus textos. Só mesmo quando os posto e sempre no instante em que escrevo.
Desde há muito que escrevo com o impulso da escrita automática e, no entanto, aprendi a direccionar o meu pensamento no sentido da ideia/imagem/cena que projectei.
Um grande abraço de obrigada :)
Amiguita vai até aqui:
http://tetros.blogspot.com/
Beijocas
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