(...) da ashfixia à serotonina

segunda-feira, julho 10, 2006

327º

Nimbo em vertigem

Da pele cai a pétala escura,
cai-te na esquina dos passos ténues.
A macieza apaziguadora do sono chega.
Uma mortalha embebida em mel e leite de coco.
Oferendas leves que lhe trazem, rainha dos pomares.
Uma festa em flor e neve.
Cai-te para o colo cheio a doce música do algodão.
Da pele voam borboletas escuras.
E o vento traz ameaças...
Para lá da próxima nuvem nasce um céu eléctrico.
A trovoada das madrastas.
As águas correm em ti, pele adentro, no íntimo da carne que nasce rosada.
E as harpas choram pelo dedilhar dos anjos desnudos.
Virá o manto de gelo caiar um rosto de rainha em pedra.
Para lá das estátuas, das catedrais e das friezas esculpidas a ferro...
E o leite brota do seio das árvores.
Mesmo no centro do bosque está um cisne só num lago eterno.
Paira a neblina que te veste a alma de amor fendido.
Da pele cai a gota de orvalho.
E esqueceu-te a pétala na esquina dos passos ténues.
O nimbo chega então.
Fica e instala-se embutido no peito.
Para além das hóstias, trava-se a vida na voz do leito aquático.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

uma viagem entre o ártico e o trópico, a uma ilha no fim do mundo...

3:42 da tarde  
Blogger Clarissa said...

Fiquei-me pelo cisne só no lago eterno... e vou sonhar com estas imagens e sons e palavras... sempre grata pelo sonho :)

8:05 da tarde  
Blogger António Gomes said...

Eu megulhei pela trovoada das madrastas. Muito bom.

1:42 da manhã  
Blogger Raquel Antunes said...

:)

Aprazem-me as milésimas possibilidades que cada qual encontra para si no sonho, na plenitude onírica que embala as palavras...

Beijos

4:08 da manhã  

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