171º
Era uma vez um rosto.
Tinha olhos, nariz e boca.
Tinha expressão.
Neste rosto havia mais coisas.
Havia o substrato quieto, escondido.
Havia caras de reis passados, histórias de baús.
- Lembra-se agora?
Um tempo, um rasgo memorial...
Uma velha como o tempo, um rosto amarrotado.
- Lembro-me. Penso nela às escuras quando os meus olhos se estendem para lá dos telhados nus... Lembro-me de um dia em que ela me chamou "Menina!". Saltei três ou quatro degraus e ri-me de ignorância pura.
Um papel amarelo, uma velha suja.
Cabelos soltos, esvoaçantes...
- Mãe?
(Silêncio)
Para lá de um rosto quieto, imune, há um substrato profundo e velho.
Há um passado de interrogações e silêncios.
A velha cobria-te de medo.
Tu deixavas de ser tu, passavas ao papel.
O papel tinha olhos, nariz e boca.
O papel tinha rosto, tinha expressão.
(Silêncio)
- Tens papel?
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